sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

BANANAS NO VARAL - por Teresa Montes Jornalista


Foto: Teresa Cristina Cunha

Me lembro bem que sempre que ia ao supermercado com meu pai ele fazia questão de ensinar a escolher as frutas e verduras.

Uma das dicas principais era ver se elas tinham brilho, e a cor devia estar firme.

Cada fruta tinha uma particularidade. Por exemplo a maçã. Se você pressionar a fruta ela deve estar firme, não pode ter nenhum machucado, partes escuras, buraquinhos. O tipo de maçã que mais tem sabor são as pequenas e em tons avermelhados

Já o mamão o melhor sabor é o do papaya. Também de preferência os menores, e quando pressionar o dedo devem estar macios, não muito, porque senão estão muito maduros e o sabor não é bom. Tem mamão que mesmo estando por fora da cor verde, já estão macios, e com sabor muito bom.

A banana, é a banana... Me lembro de papai falar que sempre comia banana, porque ela tinha muitas vitaminas que ajudavam a saúde.

E como ele gostava de banana, especialmente a do tipo nanica. Para escolhermos bem elas tinham que estar no cacho, já cor amarela com machinhas pequenas pretas, e com um leve macio em sua  textura. As bananas fora do cacho apodrecem rápido.

Mas às vezes não encontrávamos bananas já maduras. Estavam ainda muito verdes e não havia como escolher. Então papai as levava assim mesmo.

E a mania dele era colocar os cachos verdes pendurados nos arames do varal, perto das roupas mesmo. Dizia ele que o sol ajudava a amadurecer mais rápido.

E realmente às vezes em dois dias já estavam boas.

Hoje me lembro com saudade de meu pai, sempre aquele paizão preocupado, que gostava de levar a gente até na faculdade. Aquele que ninguém podia dizer nada contra sua honestidade, seu carinho com a família e seus exemplos de fé.

E sempre que compro bananas verdes me lembro dele e parece que até escuto sua voz: " Pendure as bananas no varal e logo logo estarão boas..."
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A MUDANÇA - por Teresa Montes Jornalista




Tem algumas coisas em nossa vida que precisamos passar, para amadurecermos e tirar daquele momento difícil alguma lição.



Cedo passei por uma grande provação – mudar não só de casa, mas de cidade também.



Lembro-me com tristeza de despedir de cada cômodo da casa onde morávamos, lá pelos meados do começo da década de 70, em Araguari, Minas Gerais... Ainda criança, uns nove anos... Ficava na Rua Jaime Gomes. A casa era simples e tinha vários cômodos, quatro quartos grandes, uma sala espaçosa, banheiro social e banheiro na suíte, cozinha e copa juntas, dispensa com lavabo, quartinho na área externa com banheiro para empregada. Um quintal com uma mangueira maravilhosa, um galinheiro construído por meu pai, confortável, com piso elevado, casinha de botar ovos, cocheiro de água e ração... Dentro um piso era forrado de palha seca que era sempre trocado. Havia três balanças no quintal, uma para cada filho. Eu me despedia de tudo com olhar comprido, sabendo que não mais aproveitaria aqueles espaços.



As galinhas papai havia doado para alguém cuidar, acho que minha Tia da fazenda...



Minha mãe colocou quase todos os brinquedos, meus e dos meus irmãos, na porta de casa, fazendo uma montanha com eles. E pouco a pouco, vi meninos e meninas carregando minhas preciosidades... O que mais senti, foi ver minha boneca que ria a Gui-Gui ser levada sem dó...



Coisas materiais até que a gente vai acostumando com o tempo. Mas, o que realmente me cortava o coração é ter que deixar minhas amizades. Amizades de brincadeiras, de pique-esconde, de teatro, de desfile. De brigas, algumas que marcaram uma amiga com uma enorme cicatriz... Disputa de calçada. Outra amiga, com pontaria certeira, do outro lado da rua, pegou uma pedra solta na calçada, quadrada, do tamanho da mão fechada. Jogou... E acertou bem na cabeça... Vários pontos... Uma culpa por incentivar a menina da pontaria a acertar a outra que também era nossa amiga... Mas o perdão veio de forma inusitada.



Vendo o caminhão de mudanças, todo repleto de nossos tesouros, móveis, brinquedos, bicicletas, eletrodomésticos... Tudo ali, bem apertado e pronto para ir.



Não sabia que minhas amigas, três de coração, haviam colocado em meio de roupas e gavetas alguns bilhetes inesperados.



Ao chegar à nova cidade, Uberlândia, lentamente colocando todos os objetos nos novos lugares, na nova casa. Minha mãe me chama e entrega os bilhetes.



Cada um do seu jeito, dizendo em poucas palavras, que não esqueceriam jamais de mim, e eu era uma amiga especial. Até mesmo minha amiga que levou os pontos...



Acho que chorei por três anos seguidos. Até conhecer novas amizades. E minhas amigas? As encontrei depois, visitando minha rua antiga por algumas vezes. E agora, depois de muitos anos, as encontrei, cada uma na sua vida, com filhos, com suas profissões... A amiga da pedrada uma fisioterapeuta maravilhosa, pedi perdão novamente pelas proezas da pedrada... A outra uma professora de faculdade, não a reconheci, porque quando era pequena, tinha grandes bochechas, e ficou uma moça muito elegante, sem bochechas... E a mais nova, Engenheira Civil, tem uma filha adorável, que parece muito com sua irmã, a professora de faculdade, quando era pequena.



A mudança foi dolorida, mas necessária. E dela tirei o valor de verdadeiras amizades de uma infância feliz.