domingo, 16 de março de 2014

UMA FILHA DE PÊLO MALHADO por Teresa Montes Jornalista




Assim surgiu Latifa em nossas vidas. Depois de termos perdido o nosso querido Pastor Alemão chamado Coiote, já velhinho... E também, de ter surgido um cachorrinho que salvamos de ser atropelado por um carro estacionado em frente de casa – detalhe – ele estava deitado depois das rodas, num lugar que o motorista não ia ver, Maxwell; surge Latifa, que ficou na praça de frente de casa por três dias, procurando um dono.
Ela aparentava já um ano de vida, com traços de filhote ainda, bem brincalhona.  Uma mestiça de Pointer Inglês, branca com manchas pretas. Um dia meu marido saiu, para ir à academia perto de casa, e ela o seguiu por quatro quarteirões... Ele entrou e ela ficou na porta. Quando saiu não a viu e pensou que ela tinha ido para outros lugares. Surpreso, viu que ela o estava esperando em frente nossa casa. Antes de dormir coloquei um papelão e dei-lhe água e ração, mas não a coloquei para dentro. A noite sonhei e uma voz dizia: O nome dela é Latifa, cuide dela por favor. Impressionada com o sonho, coloquei Latifa para dentro de casa onde até hoje está. 
Ela estava com a saúde debilitada, com infecção no intestino de comer lixo. Tratamos disso demos um belo banho, vacinamos e vermifugamos. Ela era como um pincher (pintier) quando pulava, a um metro do chão. Era esperta, aprendeu a abrir a porta da cozinha, que era estilo maçaneta.

Mas um dia tudo mudou. Ela fugiu e foi atropelada numa avenida movimentada próxima de casa. Se não fosse o carinho dos vizinhos, não sei onde ela estaria. Minha jovem vizinha e a mãe deram-lhe água e a acalmaram, pois ela havia se arrastado pelo asfalto até a calçada. Uma desconhecida passou e a levou para a medicina veterinária. Quando cheguei do trabalho, dei por falta de sua festa corriqueira. Era hora do almoço. Onde estaria Latifa? Fui para rua procurando, quando minha sogra, que vinha pelo caminho da praça, me avisou "Latifa foi atropelada...". Alguém a levou para medicina veterinária... Corri para medicina e encontrei a moça na porta do hospital com Latifa dentro do carro. Meu coração doeu e minhas pernas amoleceram quando a vi naquele estado. Sem pensar passamos ela para meu carro, agradeci as duas, minha jovem vizinha e a moça desconhecida. A jovem se ofereceu para ir comigo à veterinária. E foi acalmando Latifa. Chegando lá a veterinária afirmou "Ela quebrou a coluna. É melhor a levarem para medicina veterinária, lá tirarão radiografia e a cirurgia terá que ser feita." 
Levei a moça para casa dela e fui para a medicina. Tiraram a chapa e era uma fratura na T-13. A médica veterinária especialista em cirurgia de coluna canina me disse "Vou colocar a coluna da Latifa no lugar, mas não garanto que ela vá voltar a andar... Você não vai querer sacrificá-la, vai?" Eu respondi depressa  "Não, não! Fico com ela do jeito que ela recuperar."
Latifa usou gesso durante 40 dias... Foram momentos dolorosos para uma cachorra tão agitada como ela. Ela sentia as coceiras normais de cachorro, e outras que o calor do gesso causava. Isso deixava ela irritada e queria levantar. E a médica falou para não deixar. Senão o osso não recuperava. Teve que tomar até calmante... Pobrezinha.
E começamos a colocar fraldas nela. As benditas fraldas. Se não fossem elas o seu local não ficaria limpo. 
Ela tirou o gesso e começou a andar como uma foquinha, só com as patas dianteiras. Aos poucos Max voltou a brincar com ela, pois ele no inicio estranhava o gesso. E ela não podia brincar. Um dia tirando a fralda dela vi que ela reclamou de um pedacinho de fita crepe que grudou no pelo da cintura.  Uma esperança dela estar sentindo alguma coisa.
Fui parar na mão de duas especialistas maravilhosas, uma era acupunturista a outra fisioterapeuta. Tratamos a Latifa por seis meses. A atrofia das patas traseiras não regrediam. A esperança era ela ter o andar medular, mesmo sem o cérebro comandar. Mas por fim, as médicas me disseram que ela não conseguiria andar. Tentei até uma empresa para fazer botas ortopédicas, para colocar as patas traseiras no lugar, mas a médica da empresa disse que as botas não seriam adequadas para o caso da Latifa.
Desde então, me conformei com as limitações dela. Ela tem uma cistite crônica, própria de deficientes físicos, que tenho que sempre levar ao veterinário de tempos em tempos para fazer exames e controlar. Ela usa fraldas, que depois de procurar muito e fazer vários experimentos cheguei a uma marca que é muito cara. Ela precisa de pomada para evitar assaduras, como crianças... E por não ter as patinhas traseiras funcionando temos que coçá-la sempre que pede.
Ela é muito inteligente, quando acostuma com as pessoas, ela me avisa com latido diferenciado que chegou alguém conhecido, com apenas um “auf”. Já o carteiro, ela late compulsivamente, será mal de todos carteiros essa reação negativa? (Risos)
Tenho tentando fazer a manutenção da saúde de Latifa, e tem o outro cachorrinho também, o Maxwell, A diferença deles está no tamanho e peso, Latifa uns 24 kilos e Maxwell apenas uns 7 kilos... É complicado, é como se fossem outros filhos. Quem tem cachorro não pode considerar que são uma coisa para te alegrar o tempo todo. São seres vivos e com sentimentos. Penso que cachorros, a maioria deles, são como anjos em nossas vidas. Querem nos alegrar sim, mas precisam de carinho e cuidado. Precisam ir ao veterinário, serem vacinados. E se ficarem doentes, não é para serem abandonados à sorte. Precisam de medicamentos apropriados. 
Tanta gente compra cachorros, e quando viajam chegam a abandoná-los. Isso é uma grande covardia! Para esses ou essas sujeitas que maltratam animais e os abandonam, aguardem... Tudo que fazemos, seja para seres humanos, e animais, tudo volta para vocês como uma grande onda de energia. 
Eu agradeço pelas dificuldades que minha filha de pelo malhado me traz diariamente. Não sei o dia de amanhã, mas faço o meu melhor agora por ela. E quem resiste aos seus olhinhos de gratidão?

sábado, 15 de março de 2014

Nunca é tarde! Por Teresa Cristina Montes Cunha


Em uma das minhas maravilhosas aulas de telejornalismo na faculdade, tivemos oportunidade de assistir a um documentário feito por alunos sobre a alfabetização de adultos. Pessoas que não tiveram oportunidade de aprendizado quando crianças, depois de adultos, até idosos, resolvem voltar às salas de aula... O mais emocionante é ver depoimentos emocionados dessas pessoas por agora saberem o que está escrito pela cidade. “Antes éramos cegos mesmo enxergando...”
A coragem dessas pessoas em enfrentar o desconhecido mundo das letras, é um exemplo de que não devemos jamais desistir de nossos sonhos.
Mesmo com toda evolução tecnológica, as pessoas que mal  tinham na sua época e juventude um rádio para saberem as noticias e terem entretenimento, hoje estão nas salas de informática. Cada pequeno aprendizado é um novo mundo a explorar.
Minha tia, hoje já falecida, aprendeu a mexer no computador aos 80 anos de idade. Era com alegria que ela me dizia que agora falava com os filhos, que moravam em outras cidades no Brasil e até no exterior. Aprendeu a utilizar a câmera, o microfone e via e falava com seus filhos. Enfrentou sem problemas o novo mundo tecnológico.
Há dois anos resolvi enfrentar novamente as salas de aula. Voltar para a faculdade. Muitos me chamaram de louca, porque já tinha um curso superior e três especializações. Era hora de enfrentar um mestrado e não faculdade novamente. Mas o que motivou foi um sonho – ser jornalista.
E lá fui eu, com uma mochila, com caderno de matérias e bolsa com lápis, borracha e caneta... Na sala estavam uns 70 jovens. Carinhas novas entre 18 a 33 anos.  E aos poucos fui me enturmando com eles, alguns me chamavam de senhora, dona... Mas eu respondia: Está bem! Eu sei que sou velha, mas não precisa me chamar assim, somos colegas!
Estamos já  no quinto período, e são a total oito. Muitos já desistiram pelo caminho, por vários motivos. Metade da sala se separou porque agora uns escolheram o curso de publicidade. Mas a minha alegria é poder ir para sala de aula e a cada dia aprender um pouco mais. E rir e chorar com meus colegas, porque na vida não só existem as flores, mas também os espinhos....
Não importa qual seja seu sonho – vá à luta! Não importa o que vão falar desse seu ideal – enfrente! Nunca é tarde para começar...
Inspire-se na coragem daquele idoso que disse que sua maior alegria era poder ler as placas pela cidade, e enxergar o que antes ele não via.
Quem não sonha já morreu mesmo estando vivo...