Quando eu estava casada recentemente, comecei a trabalhar com
uma jovem senhora. Logo com o dia-a-dia no trabalho já havíamos nos tornado
boas colegas. E nos momentos de descontração às vezes ela me contava fatos
engraçados de sua vida. Mas um dia ela chegou com um tom bem sério lembrando
algo que sombreou seu semblante.
Deixei-a começar a expor o que a afligia.
Era uma lembrança de sua irmã mais nova. Com ela havia fotos.
Muitas fotos de um tempo feliz. Sua irmã no baile de debutantes, trajando um
lindo vestido, a foto preto e branco, mostrando toda sua juventude e beleza,
que seus quinze anos a presenteava. Ao lado, estavam suas amigas. O evento foi
num famoso salão de nossa cidade.
Outro momento, ela estava muito produzida, já era seu
casamento, a foto já era colorida, Mas pelos trajes dos convidados, devia ser lá
pela década de 70.
Ainda vimos uma série de fotos, ora sua irmã com a família,
mãe, pai e irmãos; ora ela com seu marido e os dois filhos. Ainda pequenos.
Ela pára um pouco, fitando uma das fotos, como se procurasse
ouvir a voz de sua irmã, e então diz: “Minha irmã tinha uma mania muito dela. Quando
ganhava algo novo, dizia que ia guardá-lo para uma ocasião especial. Isso desde
que casou. Guardou pratarias, copos de cristal, lindos caminhos de mesa, xícaras
de porcelana... Depois, o marido, lhe deu uma camisola de aniversário, e ela
ainda me comentou: Vou usá-la em uma ocasião especial! É muito bonita!
E como a vida não nos avisa quando alguém vai partir, assim
foi com minha irmã. Soube de um câncer. Muito severo. E em menos de um mês tive
que vê-la em um caixão. Num dia chuvoso que aumentou ainda mais minha
tristeza...
De três irmãos, ficamos só eu e meu outro irmão.
Depois de uma semana, recebo um telefonema, era o viúvo de
minha irmã. Queria que eu fosse à casa da família.
Chegando lá, ele me pediu: “Não tenho coragem de mexer nas
coisas de minha esposa. Você poderia ver o que tem para que possamos organizar
uma doação?”
Então fui com o coração apertado rumo ao quarto, que muitas
vezes dividi com minha irmã trocando ideias, risadas e confidências...
Abri o armário dela e com surpresa vi muitas coisas ainda no
plástico. Nunca foram usadas.
Edredons, lençóis, camisolas, sapatos, perfumes... Tudo
guardado para uma ocasião especial, que nunca veio...
Então minha amiga se virou para mim e disse: “Nunca guarde
nada para uma ocasião especial... Não sabemos o dia de amanhã... Não sabemos se
teremos essa oportunidade.”
Desde então, eu comecei a colocar tudo que estava guardado
para o uso. E hoje, depois de 20 anos de casada, não tenho nada que não tenha
usado de meus presentes de casamento, e também de presentes que ganho, porque aprendi
que, a ocasião especial é hoje, é agora!