domingo, 9 de fevereiro de 2014

UMA OCASIÃO ESPECIAL - Por Teresa Montes Jornalista


Quando eu estava casada recentemente, comecei a trabalhar com uma jovem senhora. Logo com o dia-a-dia no trabalho já havíamos nos tornado boas colegas. E nos momentos de descontração às vezes ela me contava fatos engraçados de sua vida. Mas um dia ela chegou com um tom bem sério lembrando algo que sombreou seu semblante.

Deixei-a começar a expor o que a afligia.

Era uma lembrança de sua irmã mais nova. Com ela havia fotos. Muitas fotos de um tempo feliz. Sua irmã no baile de debutantes, trajando um lindo vestido, a foto preto e branco, mostrando toda sua juventude e beleza, que seus quinze anos a presenteava. Ao lado, estavam suas amigas. O evento foi num famoso salão de nossa cidade.

Outro momento, ela estava muito produzida, já era seu casamento, a foto já era colorida, Mas pelos trajes dos convidados, devia ser lá pela década de 70.

Ainda vimos uma série de fotos, ora sua irmã com a família, mãe, pai e irmãos; ora ela com seu marido e os dois filhos. Ainda pequenos.

Ela pára um pouco, fitando uma das fotos, como se procurasse ouvir a voz de sua irmã, e então diz: “Minha irmã tinha uma mania muito dela. Quando ganhava algo novo, dizia que ia guardá-lo para uma ocasião especial. Isso desde que casou. Guardou pratarias, copos de cristal, lindos caminhos de mesa, xícaras de porcelana... Depois, o marido, lhe deu uma camisola de aniversário, e ela ainda me comentou: Vou usá-la em uma ocasião especial! É muito bonita!

E como a vida não nos avisa quando alguém vai partir, assim foi com minha irmã. Soube de um câncer. Muito severo. E em menos de um mês tive que vê-la em um caixão. Num dia chuvoso que aumentou ainda mais minha tristeza...

De três irmãos, ficamos só eu e meu outro irmão.

Depois de uma semana, recebo um telefonema, era o viúvo de minha irmã. Queria que eu fosse à casa da família.

Chegando lá, ele me pediu: “Não tenho coragem de mexer nas coisas de minha esposa. Você poderia ver o que tem para que possamos organizar uma doação?

Então fui com o coração apertado rumo ao quarto, que muitas vezes dividi com minha irmã trocando ideias, risadas e confidências...
Abri o armário dela e com surpresa vi muitas coisas ainda no plástico. Nunca foram usadas.

Edredons, lençóis, camisolas, sapatos, perfumes... Tudo guardado para uma ocasião especial, que nunca veio...

Então minha amiga se virou para mim e disse: “Nunca guarde nada para uma ocasião especial... Não sabemos o dia de amanhã... Não sabemos se teremos essa oportunidade.”


Desde então, eu comecei a colocar tudo que estava guardado para o uso. E hoje, depois de 20 anos de casada, não tenho nada que não tenha usado de meus presentes de casamento, e também de presentes que ganho, porque aprendi que, a ocasião especial é hoje, é agora!  

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O TEMPO E A PACIÊNCIA - Por Teresa Montes Jornalista



A gente começa a perceber que estamos em outra etapa de nossas vidas quando notamos que algo que era impossível começa a acontecer.

Desde que casei, nenhuma planta que foi para minha casa vingou. Ou eu aguava demais, ou era água de menos. Acabavam morrendo. 

De tanta raiva que passei com isso só tinha plantas artificiais. Mas quando a gente menos espera, percebe que algo começa a se transformar em nós.

O tempo da correria, da impaciência, vai dando espaço a outros valores. Sim, o tempo passa, e com ele precisamos aprender algo novo, algo bom.

A paciência de cuidar de uma simples planta e curtir o brotar das  flores nela, novos ramos, vê-la ficar mais verde e vistosa – é o sinal que mudamos!

De uma plantinha só que eu ganhei numa festa, hoje já são quase oito. 

Agora aprendi a transplantar de um vaso para outro quando nascem as mudas em algumas plantas.
Algo que antes eu achava estranho, já me pego fazendo – falando com as plantas!

E quando uma plantinha que nunca deu flores, aparece a primeira, logo mostro para meus filhos e marido:  - Vejam!  A Cremilda teve uma filhinha!

É... O tempo da paciência já começa a dar o seu sinal em minha vida.

E começo a enxergar a beleza em pequenas coisas.

Teresa Cristina Cunha

Jornalista